terça-feira, 28 de abril de 2009

Meu não querer

Saudade da saudade bateu-me forte esses dias. Misto de olhos marejados e dor pontuda fazem repente com a vontade de querer longe só para sentir falta. Principalmente na pausa entre os suspiros, quando fraquejo e me entrego aos pensamentos. Então tudo dói. Por isso desejo que se vá, coisa minha, só para possuir a necessidade de te querer.

Pergunto-me se é infortúnio tal intimidade não me deixar sozinho. Será que sofro em contradição? Pois todo bem quisto que se vai é ruim de se perder ou de não se ter. Mesmo cheio de questões, nada sobre isso me incomoda. Patologias: egoísmo ou possessão, sei que ainda não sofro. ANEMIA, será esse meu problema?

Se tal fraqueza for amor e liberdade, com pitada de saudade, pode apostar que é disso que eu sofro. A distância é mera tentativa de ter a expectativa de primeira vez. Do beijo vivido e do pescoço cheiroso. De verdade, tudo é mais gostoso quando é o outro quem decide voltar é por isso que desejo que se vá.

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domingo, 19 de abril de 2009

VivoFobia

Suspirou. O vento que soprava do norte carregava lembranças e sentimentos. O cheiro que anunciava uma chuva remetia a pensamentos muito antigos e fortemente ligados à infância. Suspirou de novo e sentiu o peso da idade que ousava agora avançar feroz rumo ao conhecido destino de qualquer ser vivente, a desconhecida morte.

Estava ela em frente a sua casa. A imagem que vinha à mente era de um ser esquálido com uma grande foice na mão. Um manto negro encobria seu rosto exagerando ainda mais suas características fúnebres. Respirou aliviado por se tratar de um mero pensamento, mas mesmo assim não atendia mais a porta. Questão de segurança.

Deixou de fazer tantas coisas. Tudo na prioridade de manter-se vivo. "Sair de casa?" - questionou. "Peste bubônica, câncer, pneumonia", fazia rima, era música e acima de tudo verdade. Notícias de televisão, jornal e rádio. Seus termômetros sociais indicavam: tenha medo. Até o algodão-doce vendido na praça fora vitimado por sua insegurança. Vai saber o que colocam naquela coisa rosada.

Preocupações dominavam seu corpo. O desespero fez do controle remoto seu melhor amigo. Recorreu ao vício do cigarro como tentativa de fuga. Não se levantou da velha poltrona de couro. Não sorriu mais. Não falou mais. O não passou a ser obrigatório em sua existência. A respiração acontecia por se tratar de um fenômeno fisiológico involuntário, se controlasse com certeza não respiraria também.

Não sabe o porquê, mas como num clarão veio à mente sentimentos nostálgicos agredindo cada milímetro de seu corpo. Levantou e caminhou em direção à janela movido pela sensação saudosista, de coisa boa vivida. A prostração cedeu ao novo e a energia inusitada. Ao abrir a janela percebeu um leve arco-íris convidando-o a mergulhar em suas memórias.

Lembrou de quando era uma criança. Os dedos pequeninos sujos de terra roçavam a barriga d'água sem preocupações. O mundo parecia maior do que ele realmente era. Árvores tornavam-se casas. Montes de areias ganhavam a dimensão de desertos a serem conquistados. A imagem da mãe marcava: hora do banho! Fugia com um sorriso que cortava as orelhas.

Viu que há muito tempo fugia também dos problemas. A ingenuidade e o sonho infantil libertara-o da escravidão paranóica que o enclausurara. Aquele olhar fez da mesmice algo diferente. Sentiu que não pertencia àquele espaço de reclusão. Com um simples otimismo transformou o seu pesadelo na melhor e a mais reconfortante das paisagens. Surpreso sentia a necessidade de querer mais.

Não era mais criança, mas percebeu que o sentimento resistiu aos sinais do tempo. Apenas se distraiu cedendo espaço aos devaneios e paranóias da vida moderna. Coisas que nunca foram realmente necessárias. Pecou pelo excesso de preocupações e com isso morreu aos poucos. Descobriu-se árduo algoz de seu céu e inferno. Suspirou novamente. Morreu.

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