Doce paradoxo
Fugindo um pouco da rigidez impessoal do parágrafo acima, mas mantendo a linha de pensamento, gostaria de citar um caso bem particular sobre paradoxo. Faço aniversário dia 9 de julho desde o ano de 1983, ainda bem. Sendo assim, durante esses 28 anos, manifestei alguns interesses, como por videogames, lamber bateria de nove volts e batata palha. Peculiares ou comuns, estes interesses se relacionavam justamente pelo fato de serem meus. Com a popularização das redes sociais digitais estes interesses se tornaram públicos, pois passaram a ser compartilhados além das rodas de conversa, caindo assim na vastidão do mundo virtual, um espaço cheio de pleonasmos informacionais (reparem nos títulos das comunidades do Orkut), onde as informações pecam pela característica efêmera que adquirem.
Nada muito sério, mas confesso que doces nunca me chamaram atenção ou até mesmo fizeram parte da lista de comidas que eu mais gosto. Para ser mais sincero, conto que doce já foi motivo de conflito entre eu e minha família, tudo porque eu não queria comer um encorpado e nada dietético sorvete de creme. Diz-se que a indiferença é pior que o ódio, se é que é possível mensurar tais substantivos, mas sem juízo de valor, não me interesso muito por doce, até como, mas não me interesso. Foi então que em meu aniversário neste ano me deparei com um de meus paradoxos. Entre os presentes que carinhosamente ganhei, me deparo com uma delicada caixa de mini tortinhas ou mini cakes, como são chamados. O laço matematicamente ajustado unia a tampa transparente à base da caixa. Uma tentação estética aos olhos que imediatamente chamavam para si a responsabilidade de degustá-los visualmente, sem freios ou pré-conceitos, numa cadeia de atos sensoriais. O nariz se encantou, a boca estremeceu e o estômago desejou, exigiu. Obedeci-o.
Mesmo com as limitações da unidimensionalidade da escrita, os adjetivos cumprem bem o papel na tentativa de explicar o que me aconteceu. O conflito com um passado dietético se rompeu a partir do momento que senti a textura do cheesecake, um doce com recheio à base de bolachas, queijo creme e com uma cobertura de fruta. Tamanho era o encantamento, que me fez regressar à sensação dos anos iniciais de vida, quando me surpreendia ao experimentar pela primeira vez o sabor das coisas. E era, de fato, a primeira vez que experimentava aquelas coloridas mini tortas. Três salves se fizeram obrigatórios. O primeiro salve para a perfeita alquimia entre componentes tão distintos. O segundo salve para Ana Carolina que preparou guloseimas tão gostosas. E o terceiro salve novamente para Ana, pela bondade de me permitir provar um doce divinamente requintado.
Com um argumento adocicado, os conflitos gerados pelos nossos paradoxos chegam ao ponto de serem desejáveis. A saída da zona de conforto impulsionada pelo desejo de mudança é bem apaziguadora quando temos como incentivo uma mini torta tentadora. Com uma opção dessas até me arrisco a romper outros preconceitos, mesmo que seja comer doce de jiló com calda de pequi. Ainda bem que alguém teve a sabedoria de confeccionar incentivos tão encorajadores como essas pequenas tortas que insistem em lambuzar de gula os paladares alheios de bípedes, que ansiosamente aguardavam por um incentivo para viver e assumir seus paradoxos.
http://minicakesgyn.blogspot.com/
Marcadores: aniversário, carinho, doce, presente