sábado, 30 de julho de 2011

Doce paradoxo

As pessoas, em sua essência, são verdadeiros paradoxos bípedes. Carregam pelo mundo suas contradições e anseios volúveis. Não que esta abordagem sobre paradoxo seja pejorativa, pelo contrário, o paradoxo aqui abordado se baseia na vontade e nos desejos de mudar, assim que necessário ou quando disparar vontade. Observa-se tal comportamento, o de mudar, nas experiências e vivências do cotidiano, exatamente àquelas em que não se consegue, em sua grande maioria, realizar uma análise autocrítica. Aliás, não é feita ao menos a auto-análise, até porque tais situações não demandam obrigatoriamente atenção suficiente para um comportamento tão criterioso. Por isso essas mudanças acontecem quase que automaticamente. Neste caso, os paradoxos funcionam como um gatilho que engendra processos que dão origem a necessidades ou pelo menos desejos, muitas vezes intuitivos, de fazer outras escolhas.

Fugindo um pouco da rigidez impessoal do parágrafo acima, mas mantendo a linha de pensamento, gostaria de citar um caso bem particular sobre paradoxo. Faço aniversário dia 9 de julho desde o ano de 1983, ainda bem. Sendo assim, durante esses 28 anos, manifestei alguns interesses, como por videogames, lamber bateria de nove volts e batata palha. Peculiares ou comuns, estes interesses se relacionavam justamente pelo fato de serem meus. Com a popularização das redes sociais digitais estes interesses se tornaram públicos, pois passaram a ser compartilhados além das rodas de conversa, caindo assim na vastidão do mundo virtual, um espaço cheio de pleonasmos informacionais (reparem nos títulos das comunidades do Orkut), onde as informações pecam pela característica efêmera que adquirem.

Nada muito sério, mas confesso que doces nunca me chamaram atenção ou até mesmo fizeram parte da lista de comidas que eu mais gosto. Para ser mais sincero, conto que doce já foi motivo de conflito entre eu e minha família, tudo porque eu não queria comer um encorpado e nada dietético sorvete de creme. Diz-se que a indiferença é pior que o ódio, se é que é possível mensurar tais substantivos, mas sem juízo de valor, não me interesso muito por doce, até como, mas não me interesso. Foi então que em meu aniversário neste ano me deparei com um de meus paradoxos. Entre os presentes que carinhosamente ganhei, me deparo com uma delicada caixa de mini tortinhas ou mini cakes, como são chamados. O laço matematicamente ajustado unia a tampa transparente à base da caixa. Uma tentação estética aos olhos que imediatamente chamavam para si a responsabilidade de degustá-los visualmente, sem freios ou pré-conceitos, numa cadeia de atos sensoriais. O nariz se encantou, a boca estremeceu e o estômago desejou, exigiu. Obedeci-o.

Mesmo com as limitações da unidimensionalidade da escrita, os adjetivos cumprem bem o papel na tentativa de explicar o que me aconteceu. O conflito com um passado dietético se rompeu a partir do momento que senti a textura do cheesecake, um doce com recheio à base de bolachas, queijo creme e com uma cobertura de fruta. Tamanho era o encantamento, que me fez regressar à sensação dos anos iniciais de vida, quando me surpreendia ao experimentar pela primeira vez o sabor das coisas. E era, de fato, a primeira vez que experimentava aquelas coloridas mini tortas. Três salves se fizeram obrigatórios. O primeiro salve para a perfeita alquimia entre componentes tão distintos. O segundo salve para Ana Carolina que preparou guloseimas tão gostosas. E o terceiro salve novamente para Ana, pela bondade de me permitir provar um doce divinamente requintado.

Com um argumento adocicado, os conflitos gerados pelos nossos paradoxos chegam ao ponto de serem desejáveis. A saída da zona de conforto impulsionada pelo desejo de mudança é bem apaziguadora quando temos como incentivo uma mini torta tentadora. Com uma opção dessas até me arrisco a romper outros preconceitos, mesmo que seja comer doce de jiló com calda de pequi. Ainda bem que alguém teve a sabedoria de confeccionar incentivos tão encorajadores como essas pequenas tortas que insistem em lambuzar de gula os paladares alheios de bípedes, que ansiosamente aguardavam por um incentivo para viver e assumir seus paradoxos.

link para Blog da Ana (a fazedora de doces. rs.):
http://minicakesgyn.blogspot.com/

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Te amo nesse dia mais feliz

23/01

Oi,

Lembro-me que era um sábado do ano de 1983. Morria na Cidade do México, Bienvenido Granda, grande cantor e compositor latino-americano. Era também nove de julho, que em meados da década de 30 foi um dia marcante não somente para São Paulo, mas para o Brasil. Fora deflagrada a Revolução Paulista. Meras conexões e uma surpresa do destino.

Em 9 de julho de 1983 foi exatamente quando abri os olhos para o mundo pela primeira vez. As 16 horas e 10 minutos eu já estava atrasado uns cinco. Poderia sentir a interminável insistência para que eu deixasse aquele espaço tão dócil, agradável e confortável. Não queria sair, de jeito nenhum, mas os apelos eram maiores.

Naquele instante, mesmo que sem ar, estava a ganhar o mundo. Pude com meus pezinhos cansados sentir a superfície áspera dos panos que me envolviam. Sentia também falta, de algo que mesmo tão próximo, nunca fora tão distante. Minhas mãos procuravam incasavelmente um tato amigável, quente e acima de tudo amoroso.

Foi quando percebi o toque sutil e delicado de alguém. Beijava-me como buscava as estrelas e abraçava-me como se as quisesse guardar em seu bolso. E poderia, mesmo porque eu era do tamanho de um sapato infantil. Prendia, mesmo que inconsciente, meus afagos naqueles cabelos macios e cheirosos. Agora voltara para perto de onde nunca desejaria ter saído.

O estranho foi ser visto como uma dádiva. O milagre da vida que tanto insiste em fazer dos seres humanos, bobos e boquiabertos. Por mais que o momento se repetisse milhares de vezes, cada um possuía sua especificidade. Afinal de contas, milagres não são fáceis de se ganhar ou adquirir. E acho que te vejo assim, uma dádiva em minha vida.

Hoje é seu dia e que dia mais feliz, poderia dizer uma música. Mas sinceramente, não quero cantar ou desejar-te tudo de bom. Simplesmente quero senti-la em meus braços, assim como você me sentiu pela primeira vez. E nos meus olhos poderá perceber que nunca te quis mal ou perdi o amor que tenho por você.

É, feliz aniversário... e mesmo com todos esses anos passando, os afagos, os sorrisos, continuamos os mesmos. Os mesmos não, melhores. Mais experientes, é claro, mas também mais amorosos e cada vez mais unidos. Menos brigas e mais amores. Vários ditados, frases clichês e chavões poderiam expressar mais e em menos palavras o que tenho pra te dizer.

É por isso que eu uso aquele bom e velho : Eu te amo mãe.

A qualquer momento você pode chegar. Já são quase uma hora da manhã e você nem sabe que tem um presente dentro do seu guarda-roupa. É uma caixinha que tem como chave uma estrela. O segredo para abrir você vai ter que procurar... quer uma dica?

Feche os olhos e ponha a mão no coração. Pense positivo e empurre o dedão.

No fim eu que ganhei o melhor presente, você.

Feliz Aniversário mamãe, espero que goste.
Do filhote
Renato

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